Agora a Sério

Nem cínicos nem tontos
o bastante para as guerras
mundiais da mercadânsia,
são simpáticos, os «tugas»,
como todos os inábeis.

Se dão pouco, menos pedem,
desafogam-se em abraços
de convívio quintaleiro,
com o mundo num chinelo
e o chinelo ao pé da porta.

Sem mudanças nem conflitos,
são amáveis com os factos,
obedecem aos estreitos
razoados da renúncia,
não se levam muito a sério.

No lagar da contingência,
reconhecem quase a gosto
a astenia da azeitona,
fazem migas do orgulho,
fazem figas, queimam velas

de tamanho não-te-rales
e que se lixe o candeeiro
do futuro. Malnascidos,
comoventes como ratos
na gaveta da cozinha,

com as patas num trapézio
de suspiros cauteloso,
atilados como filhos
primogénitos da fome,
são apáticos, mas giros:

piedosos quanto baste,
confiantes quando podem,
inocentes como poldros,
pés de salsa ao regadio
da vidina providência.

Faço meus os seus defeitos
(a preguiça, a timidez,
a vocação do remedeio)
e agradeço ter nascido
bem pequeno, com espaço

(quer dizer) para crescer
um pouco mais. Pois
não há pior destino
que nascer acabadinho,
já montado na carroça

triunfante da fiúza,
vendo o mundo p’lo binóculo
invertido do umbigo,
com a alma metralhada
de paixão e cupidez.